Torre del Paine, só

Temos, a Nikon e eu um pacto de amor. Pura simbióse. Disse uma vez que ela conhece esse meu descompasso cardiolairiano de perder-se em meio à emoção.

Nessa viagem ao extremo sul da Patagônia chilena, ao pousar o olhar diante das Torres que emergem da Cordilheira Riesco, saí do sério. Entre maravilhada, quase sem fala, (melhor dizer, sem fala alguma) busquei a câmera. Tirei-lhe a vestimenta de couro e foquei o cenário - quem sabe a obra final? Não terá o Pai Celestial dito? "Está Feito!"

Tremia de emoção e frio. Ela tremia também.

Sua agulha para leitura do fotômetro, enlouqueceu... Desvairada, subia e descia sem que a pudesse controlar. Busquei o foco. Arrisquei uma leitura intuitiva Não falhei. Na busca da imagem fiel de luz entardecendo segui só meu coração. A Nikon demorou mais a compor-se.

O guia, tolerante e compreenssivo entendeu que o primeiro olhar é como estar diante do Pai. Um prêmio para quem após tanto voar e de tanta estrada e chão por cumprir-se merece o êxtase da contemplação.

Não havia ainda nesse ir e vir de tantos carimbos no passaporte, de tanta geografia percorrida e história confrontada, visto nada tão provocador na graça de estar viva., Torres Del Paine, esse maciço montanhoso, se assemelha ao primeiro olhar com opalinas azuis. (Quem sabe? - água marinha-celeste.) Emergiram do centro da terra para o arremate da beleza assinada pelo Criador.

Formaram-se então os lagos, as lagunas, as estepes, montes, cascatas, fendas e escarpas num deslumbramento perdulário de cores. Não sem razão foi declarada pelo UNESCO como reserva da Biosfera.

Todo o Parque Nacional ocupa a medida exata de 242.242 hectares (para que não se olvide). Pode ser volteada no percurso preparado pelos guias. A cada mudança de direção, as silhuetas rochosas de granito, já cobertas de neve delineiam-se diferentes, ganham nomes e o olhar divinizado do privilégio por estar lá.

Solene é o som do silêncio! Os guanacos, ora em bandos, ora solitários, recepcionam a nós, os intrusos nessa paz contemplativa com seus olhares de ternura.

Lebres correm à frente dos faróis da Van e o rumor da noite, instala-se.

Chegar à Hosteria em meio ao frio de 2º graus negativos e ter na acolhida o aroma de especiarias para um jantar com chef internacional vai configurando mais um prêmio. Há sempre um fascínio renovado quando, num hotel de montanha, a noite instala-se. Tão longe estávamos que, os recursos de luz elétrica têm hora e limites. Ao amanhecer vamos reconhecer a grande geleira que nos têm a seus pés.

O Outono exibe Lengas e Ñires em três tons: verde, amarelo e um vermelho afogueado que seduz. São autóctones. O campo vai perdendo o verde e em três dias cobrir-se-á de neve.

Chegamos em hora eleita.

O primeiro dia ensolarado e frio. O segundo em brumas e gelado. O terceiro nos levou ao café-da-manhã com neve e frio cortante. Nosso guia, Señor Roberto Danoso, um arreiro competente e tolerante fez tantas paradas quantas foram nossas exclamações de: "Meu Deus - que lindo!" Descíamos à busca do ângulo para a sentença dos cliks. Comigo estavam duas modelos e amigas. Com suas câmeras, sem hesitação trocaram a pose pelo visor.

No fim-do-mundo a paisagem espera pelo olhar humano. Qualquer vaidade será domada.

"Antes que as luzes se apaguem" convido-os para o grande espetáculo!

E confio que nosso Criador haverá de ser magnânimo ou poupar para os herdeiros de uma nova Terra a visão dos suspiros e ais por tanta beleza. Seja louvado o Arquiteto Celeste!

Lair Leoni Bernardoni
2002

Lair y la Fotografía del Ojo Enamorado

Lair es así y sus fotografías lo revelan de manera concluyente: es una apasionada por la forma y el color, es una enamorada de la luz.

Por ello es tan natural que de su fotografía luminosa (y a menudo radiante) se desprenda no sólo oficio seguro sino también "y principalmente" ojo enamorado, sentidos en alerta, poesía visual.

Y su cámara nos llega a parecer de pronto ese mítico "Tercer Ojo", capaz de otorgar a quien lo posee una capacidad de ver más allá de las apariencias, en su caso: una mirada apta para descubrir la esencial belleza que poseen las cosas, seres y paisajes de este mundo.

Con su cámara viajera y su voluntarioso empeño por ver y fotografiar los más distantes rincones del planeta, Lair tiene amigos en todas partes y de todas partes conserva memoria y emoción.

Se le retribuye con saudades y afecto, tal como lo hago yo, desde Chile, teniendo ante la vista una de sus cartas y unas notables fotos suyas de "Las Torres del Paine", altas cumbres nevadas que "siendo territorio chileno" de alguna legítima manera también le pertenecen.

Edmundo Olivares Briones
Escritor y fotógrafo.
Autor de Programa Multimedial dedicado a Pablo Neruda.2002