Lair Leoni Bernardoni
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E aquelas árvores semi-despidas de folhagem contrastando com suas irmãs mais jovens e verdejantes. Apenas tê-as retratado já seria um passaporte para o reino perdito da beleza. Mas você havia feito mais, havia como que desvendado o mundo espiritual dessas árvores, porque artes não sei.

Mestre Julio de Queiroz


Os fotógrafos têm a mesma
função do poeta:
eternizar o momento que passa...

Mario Quintana
Bilhete com elogio do poeta

Dádiva foi a tua chegada aquela tarde na Casa das Rosas. Trazendo a tua luz.

Deixa eu te dizer, bem baixinho, para todo mundo ouvir:
és artista da luz e pessoa de luz.

Te agradeço - não, ninguém agradece amor - celebro o teu sortilégio de me descobrir como sou, como eu já era no que sou hoje. Naquela tarde do nosso encontro, gravaste o meu fulgor sereno.


Thiago de Mello
Maio de 2008

Lair Leoni Bernardoni refaz o fazer fotográfico,
destinando-lhe um espaço de pura beleza.

Nada perturba a atmosfera de transparências.

Lembro de Visconti.
A poesia esplende nas imagens, sem pressa, pouso suave, gerânio ao luar, floremflor.

Lembro Leonardo Da Vinci, o ideal de beleza possível em madonas amadas, atemporais.

Composição, tonalidades, a figura humana, a unidade apreendida a partir de uma
sensibilidade generosa, aberta para a luz e a revelação de faces debaixo do rosto da superfície.

Abrandamento, ecos, doçura, sutileza, rítmo, dignidade.

A obra de Lair equivale a um código poético.

E sabemos, hà muito tempo, com Hölderlin:
Quanto mais poético, mais real.


Lindolf Bell
Member of International Association
of Critics of Art, 1983

Se desse um espelho à uma pessoa em estado absolutamente selvagem,
ela não se veria refletida nele, só perceberia sombras, claros-escuros.

Falta de educação visual, que se exige de quem vê as fotos de Lair, pois elas revelam muito mais do que o mero resultado de se apertar o botão da câmera, são obras de arte, têm alma, revelam a vida interior.

Mais que uma fotógrafa, Lair é uma artista de extrema sensibilidade e bom gosto, aos quais dá ajuda de apurada técnica.

Parabéns, Lair!


Carlito Maia
MASP, 1987

... se acende o frescor de uma sensualidade que, dir-se-á, é fruto sensível de certo pudor subliminar, perpassando o contorno sutil dos seios malescondidos, do pé degasiano nos camarins camuflados, dos lábios carmesins de Renoir, das clavículas douradas pelo sol, das mãos lassas entregues à quiromante ou do rosto suspenso pelas cordas luminosas de uma eroticidade contida e prestes a explodir.


Péricles Prade
Contista, poeta e ensaísta, 1992

Todo artista tem o direito de criar uma utopia para melhorar o mundo.


Professor
Lívio Abramo, Gravurista
Julho, 1984

Tudo que se diga da Beleza é óbvio porque ela é radiante como a luz do sol que doura a natureza. Os seus reflexos são as pinceladas atiradas sobre as coisas e pessoas, dando-lhes o relevo que se traduz em luz e sombra.

Aí estão as duas dimensões gerais que vislumbramos, mas temos a noção da terceira pelos contrastes e riqueza de impressões. A arte fotográfica repousa nessas três dimensões usadas sabiamente, em perfeita sincronia da paisagem ou da figura humana com as cores que as realçarão.

Das fotos de Lair, conhecidas como jóia rara sente-se a irradiação suave dos olhos, rostos e boca numa escalada de valores cromáticos tirados de uma simbólica paleta de pintor. Parece que o fotógrafo foi bosquejando mancha a mancha, tom a tom, em quantidades graduadas como outrora o fizera Renoir na composição estupenda de suas telas imortais.

Jamais ela se mostra agressiva, à moderna, pois o seu temperamento artístico exige suavidade de panejamentos de rendas e tecidos que nos traz à retina todo o potencial dos estatuários gregos. E a folhagem em composição poética de claro-escuro informa-nos do contraste entre pessoas e natureza em harmonias que nos levam o pensamento ao sonho e ao encantamento.

Lair, poeta da fotografia, fotógrafo da poesia, encontrou caminho magnífico para o exercício humanamente possível dentro dos cânones da Arte, da qual se assenhoreou com maestria e total conhecimento.


Professor Vasco José Taborda
Presidente da Academia de Letras José de Alencar - Curitiba - PR
Abril, 1983

 

 

 

 

 

Cidade de São Paulo. Nas ruas e praças nada, nenhum ser humano, cães, aves, veículos. Silêncio absoluto. Nos relógios 02:20 horas da madrugada. Madrugada sem noite, sem escuro. Um tom amarelado tingia o céu. A megalópole com seus prédios e casarios carrancudos, sem histórias arquitetônicas, sem belezas traçadas por mãos da arte. As raridades ainda em pé desaparecidas entre a melancolia geral.

Eu procurava saídas para encontrar a noite. Entrava por ruas, becos, travessas, galerias, escadarias . Não havia um rumo sem ter que voltar. Então fui dar no Largo do Arouche na madrugada pálida. Respirei um tanto aliviada. Havia ali adiante uma mulher de costas, vestindo saias longas de estampas sutis em azul e branco, casaco bordô. Fui movimentando até poder ver o rosto. Havia um tripé a sua frente e ela manipulava uma máquina fotográfica, ajustando delicadamente na direçaão de uma esquina. Observei-a. Ela trocava incessantemente as lentes da máquina, olhava para o céu e pousava o olhar em seguida sobre aquele relógio imenso onde permanecia parado nas 02:20 da madrugada. Fui cada vez mais perto, era preciso saber quem estava ali naquele universo tão calado. Vi. Chamei: Lair? No momento em que você moveu-se à esquerda ao me ouvir, o tom amarelado do céu tomou conta de todo o Largo: paredes, folhas, chão, absolutamente tudo e nós também. Você levou o dedo indicador aos lábios dizendo baixinho; "Estou captando a alma das ruas , preciso de silêncios para levá-las comigo".

Sempre gosto de acordar d'um sonho perturbador. No último dia 25 gostaria de não ter acordado quando Lair disse que "precisava de silêncios para captar a alma das ruas para levá-las consigo". Desde então tenho lembrado e pensado muito sobre as imagens por onde vaguei e o porquê que você estava lá e , aqui neste instante. Me conte alguma coisa. Desata este nó . Estou tentando desatá-lo ao contar minha viagem.
Te abraço afetuosamente

Eulália Radtke

Agosto, 2013

Avançar
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